E elas caem em abundância. Mas por quê?
Por causa de um livro. Alguns perguntarão: "Só isso? Um livro?"
Mas não é um livro qualquer. Não é um mero agrupamento de palavras escritas sobre uma folha qualquer. Não, é um livro escrito com as cores da raça humana. Ou seriam as dores?
A primeira pergunta óbvia é: como ele chegou a esse livro?
a paixão
Não é preciso muito para uma paixão surgir:
Sessão de cinema só dali a alguns minutos.
Tempo livre.
Uma livraria.
Uma contracapa.
Na contracapa ele leu:
Quando a Morte conta uma história,
você deve parar para ler
A curiosidade venceu (ela sempre vence).
Abriu o livro, leu as primeiras páginas:
Primeiro, as cores.
Depois, os humanos.
Em geral, é assim que vejo as coisas.
Ou, pelo menos, é o que tento.
Continuou lendo e, a cada palavra, ficava mais enamorado da Morte. Sim, eu sei que isso soa estranho, mas essa morte dizia as coisas de um jeito todo seu... especial... humano.
Insisto - não tenha medo.
Sou tudo, menos injusta.
Chegou a hora da sessão.
Deixou sua paixão.
Foi ver o filme.
a surpresa
Meses se passaram.
Era seu aniversário. A família reunida para celebrar. Seus pais dizem que não sabiam o que dar, por isso lhe compraram um livro.
Um pensamento que começa na mente e se espalha pelo corpo, percorrendo suas veias, deslizando por suas artérias... desejoso... esperançoso.
Mãos trêmulas.
Um papel desembrulhado.
Um sorriso indescritível no rosto.
a leitura
Como todo amor verdadeiro, esse foi cultivando-se pouco a pouco. Foi entrando sorrateiramente e reservando um espaço que sabia que lhe seria devido.
Levou meses até que ele começasse a ler. Se ele queria tanto, por que o fez esperar?
Não sei ao certo, e talvez nunca saberei. Mas ele é supersticioso e, se um dia lhe perguntarem, ele provavelmente dirá: "Eu não o esperei, nem ele me esperou. Foi no momento certo. Também poderia tê-lo adquirido assim que o vi, mas não era a hora. Quando chegou o momento certo, ele veio até mim."
o prazer e a dor
Sim, dor mesmo. Daquela que dói na alma, como dizem por aí.
Ele saboreou cada palavra como se fossem velhos amigos a se reencontrar. Sem pressa, sem ansiedade. Deixando o papo fluir naturalmente.
Riram juntos.
E eu páro de me escutar, porque, para dizê-lo curto e grosso, eu canso a mim mesma.
Curtiram o momento juntos... sorvendo as palavras.
Enquanto o livro tremia em seu colo, o segredo sentou-se em sua boca. Acomodou-se. Cruzou as pernas.
Choraram juntos... e como choraram.
O silêncio não era quietude nem calma, e não era paz.
a despedida
Como a maiora delas, essa despedida não foi planejada, não foi prevista. Ela simplesmente aconteceu.
Mas teve uma pequena ajuda.
Um almoço sozinho e rápido. No resto do tempo ele leu.
Um compromisso cancelado à noite. Ficou em casa e leu.
Foi lendo, e lendo, e lendo... e a cada página, por mais que as lágrimas viessem e lhe embotassem os olhos, ele prosseguia.
E prosseguiu até a última palavra... até o último ponto.
Não ficou triste pelo término. Ficou feliz pelo que tiveram juntos... com a certeza de que guardava para sempre as palavras... as sensações... as reflexões.
Odiei as palavras e as amei, e espero tê-las usado direito.
10 comentários:
O final é realmente a parte com a maior carga de emoções! E que linda sua história, gente! Adorei mesmo. E adorei trocar figurinhas sobre nossa paixonite comum. :)
Beijão!
emocionante. lindo isso dele ter ido a vc. perfeito. um amor como poucos.
o q fez me interessar neste livro foi exatamente esta mesma frase. porém, ñ o comprei na hora tb. acho q ainda ñ é o momento. estou com uma fila e queria acabá-la primeiro. quem sabe o meu ñ vem dessa forma. qdo for a hora?!?!
pode ser...
beijão.
@Ariane: Também amei trocar figurinhas sobre nossa paixonite em comum! rs.. Nada como ler um livro incrível e ainda ter com quem compartilhar essas sensações!
@drika: Faço votos de que ele também venha até você quando for a hora, pois é realmente um livro muito especial.
Muito obrigado pelos comentários tão simpáticos! :)
Um beijão,
Léo
(comentário da minha amiga Nany, que "disse" que não conseguiu postar aqui... brincadeira! rs :D)
Seu texto ficou lindo, lindo mesmo. Não sabia (e me esforcei para não saber) onde terminava o livro e começava vc. Eu entendo perfeitamente essa relação com os livros e mais...quando o livro é muito bom eu paro de ler para não acabar logo. E degusto cada palavrinha até chegar "o" ponto final. É uma delícia mesmo. Mas parabéns adorei o texto...teve um tom de poesia muito bonito."
Muito obrigado, querida, por essas palavras tão belas! :)
Beijosss,
Léo
Nada me pareceu óbvio. Nem as lágrimas.
Léo,
Que pena que muita gente não entende a profundidade das palavras e consegue chorar com um livro. Eu sempre choro, com vários merecedores.
Desde que li o título do livro na livraria tive vontade de ler...
E pela sua experiência, parace ser um livro que vale a pena ser lido ;)
@Violet: você sempre com seus comentários excelentes e poéticos não é, meu amor? :)
@Mah: eu também choro, como você provavelmente percebeu... eu choro com livro, com filme e acho que até com música... :)
@Sara: pois acredite que além do título chamar a atenção, o livro inteiro é ainda melhor... você não se arrependerá... ;)
Muito obrigado mesmo pelos comentários tão lindos, sinceros e singelos!
Um beijão,
Léo
Lindo seu comentário. Como uma pessoa disse acima:DIificil saber onde termina seu comentário e começa o livro.
Há uns dez anos li um livro real sobre o nazismo, tinha detalhes dos massacres, das camaras de gáz, dos enterros coletivos em valas comuns. Agora, ao ler "a menina que roubava livros" precisei somente colocar a história de liesel no palco.
Só mesmo um grande escritor poderia ter tanta imaginação.
@anacleta Obrigado pelo seu comentário!
Minha relação com esse livro foi bem visceral mesmo, por isso que escrevi esse post logo após terminar de ler o livro. Creio que a emoção era demais para ficar apenas dentro de mim, por isso senti essa ânsia de escrever.
E concordo com você plenamente, só mesmo um grande escritor poderia ter tanta imaginação. Esse livro é realmente um achado.
Beijos,
Léo
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